Resumo
O presente estudo visa analisar os múltiplos sentidos que constituem corpo e linguagem, através da produção histórico-cultural sobre afasia e apraxia. Tal questão emergiu a partir de um período de trabalho junto a sujeitos afásico e/ou apráxicos participantes dos grupos do Centro de Convivência de Afásicos – CCA (IEL/FCM-UNICAMP), em que percebeu-se que os discursos expressos em suas práticas sociais revelavam múltiplos sentidos sobre o ser afásico /ou ser apráxico. Além disso, no contexto social, são diversos os modos de constituição de sentidos da afasia e da apraxia e, dentre esses, podemos apontar, nesse momento: a área médica, que ainda atualmente as descreve como sendo a afasia apresença de impedimento ou dificuldade de expressão oral e gestual, e a apraxia o impedimento ou dificuldade para executar movimentos sem que haja um déficit moto; o corpo social que, de modo geral, se pauta em valores ideais quanto ao ser ‘torto’, ser ‘mórbido’, ‘não saber falar’, em fim, em normas patologizantes; a família que reclama por um sujeito que não é mais quem era; o afásico e/ou apráxico que na certeza de não mais ser quem era, encontra possibilidades para expressar-se e movimentar-se. Tais discursos, tais práticas sociais vêm sendo constituídos desde o início do processo de civilização, contendo em si marcas de diferentes condições de produção. Os dados deste trabalho foram construídos a partir de registros (fitas K7, fitas de vídeo e caderno de relato de tarefas) feitos no decorrer das diversas atividades do grupo, que envolvem diferentes formas de participação do pesquisador. A análise do material empírico está baseada em pressupostos de uma perspectiva da constituição histórico-cultural do sujeito. Estaremos discutindo, na relação entre o teórico e o empírico, questões relacionadas a imagens e concepções de sujeito, corpo, e linguagem.